A MÍSTICA DA ORAÇÃO LITÚRGICA
Formação Litúrgica em Mutirão
CNBB - rede celebra - revista de liturgia
Ficha 35
Ione Buyst
O diálogo entre o Senhor e o seu povo passa-se em clima de profunda oração. A comunidade reunida deve poder dizer honestamente: "O nosso coração está em Deus!". Há orações, salmos, hinos e cânticos transmitidas e curtidas de geração em geração, como um tesouro precioso para expressar e transmitir a fé. Entre outros, temos o 'Pai Nosso...', a abertura dos ofícios divinos, Luz radiante 1 , o 'Glória', o 'Santo...', 'Cordeiro de Deus...'. Porém, não podemos cantar ou recitá-los distraidamente; devem brotar de dentro do coração, encher nossa alma de gozo e fervor. Nosso coração e nossa mente devem acompanhar aquilo que nossa boca proclama. Neste sentido, a oração comunitária é ao mesmo tempo uma oração profundamente pessoal. Além disso, ao longo de toda a celebração há momentos de silêncio para uma oração 'cara a cara' com Deus, particularizando a oração comunitária; por exemplo: antes do ato penitencial, após cada 'oremos', após as leituras, a homilia, a comunhão eucarística, após cada salmo do ofício divino...
A oração perpassa toda a celebração litúrgica; é a atitude de fundo com a qual entramos na igreja, cumprimentamos as pessoas, fazemos os gestos de oração, ouvimos a Palavra, comemos do Pão e do Vinho da eucaristia... Mas convém ressaltar sua dependência da escuta da Palavra; na tradição cristã, assim como na tradição judaica, a proclamação e interpretação das leituras bíblicas é o chão de onde brota a oração. Os salmos são as duas coisas ao mesmo tempo: são Palavra de Deus e palavra de nossa oração! Felizmente, hoje estamos redescobrindo o valor destas poesias cantadas, tanto para a oração pessoal, como principalmente para a celebração comunitária. Pouco a pouco, o salmo é valorizado na celebração da palavra e, com a divulgação do Ofício Divino das Comunidades 2, o povo começa a se familiarizar de novo com as expressões milenares que alimentaram a fé de centenas de gerações de judeus e cristãos, nos momentos de felicidade, e principalmente nos momentos da dureza da vida: de doença, de perseguição, de traição, injustiça, e inimizade. Aprendemos com a tradição litúrgica a cantar os salmos, unidos a Cristo. É ele o primeiro cantor dos salmos. Expressa diante do Pai sua fidelidade, mas também sua angústia e sua dor. Nós unimos nossa voz à dele. Deixamos que seu Espírito faça vibrar as cordas de nosso coração e nossa mente. Percorrendo cada verso com atenção amorosa, cantamos a partir de nossa experiência de vida, na qual reconhecemos traços da experiência de Jesus Cristo. Expressamos a dor e o sofrimento de toda a humanidade; elevamos a Deus também o desejo e a alegria, as experiências de comunhão e de transformação que acontecem no mundo inteiro.
Na medida do possível, os salmos deveriam ser sempre cantados. Seu próprio nome indica isso; de fato, 'salmo' vem de 'saltério', um instrumento musical, de cordas, para acompanhar essas poesias orantes que brotaram da relação de confiança e fidelidade entre Deus e o seu povo. Em toda a liturgia, aliás, a música, cantada ou tocada nos instrumentos, é uma ajuda preciosa para a oração comunitária e pessoal. Daí a importância de se escolher cantos adequados a cada momento da celebração e de se cantar e tocar de tal modo que ajudem toda a comunidade a se unir mais estreitamente à ação litúrgica que se está realizando. É preciso cantar 'no Espírito'. Música na liturgia não é para ser enfeite ou diversão! É para expressar a ação pascal de Cristo em nossa vida e, assim, possibilitar nossa participação nela.
Perguntas para a reflexão pessoal e em grupos:
- Para orar de verdade, basta recitar fórmulas de oração? O que é preciso para se ter uma oração litúrgica de verdade?
- O que é um salmo? De onde vem?
- Como podemos cantar os salmos "unidos a Cristo"?
1 Cf. Ofício Divino das Comunidades, p. 265.
2 Em sua 12.ed., Paulus, São Paulo, 2002.
Artigo publicado In: SECRETARIADO NACIONAL DO 11. INTERECLESIAL DAS CEBs. CEBs: Espiritualidade libertadora; seguir Jesus no compromisso com os excluídos - Texto-base do 11. Belo Horizonte, Editora O Lutador, 2004, p. 110.
Fonte: CNBB - www.cnbb.org.br
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